• Edição 122
  • 13 de julho de 2006

De Olho na Mídia

Tecnologia brasileira aperfeiçoa esferas que combatem os tumores

 

Rio de Janeiro (Agência Estado) – O conhecimento para a produção de microesferas plásticas usadas no tratamento de tumores vascularizados, incluindo os cancerígenos, não é mais segredo para o Brasil. Além de desenvolver uma tecnologia para a fabricação das partículas, uma equipe do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) fez ainda melhor: descobriu uma forma de aprimorá-las. Testado em humanos, o produto já está protegido por patente no Brasil e no exterior e só depende agora da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para começar a ser manufaturado.

Desenvolvida há dois anos no Laboratório de Modelagem, Simulação e Controle de Processos da Coppe a partícula, invisível a olho nu, é usada nos processos de embolização, uma técnica já conhecida através da qual um produto – neste caso as microesferas – é injetado no organismo com o objetivo de obstruir as veias que levam o sangue até o tumor. Sem a vascularização, o tecido perde os nutrientes necessários para sua manutenção. No caso dos miomas, tumores benignos que se formam no útero, o tratamento pode causar um atrofiamento capaz de impedir a remoção do órgão. Segundo o engenheiro químico da Coppe, José Carlos Pinto, coordenador do grupo de seis pessoas que desenvolveu o polímero sintético, o produto apresenta características importantes que facilitam a sua utilização, como a superfície regular e a forma esférica. A nossa tem uma geometria diferente das partículas disponíveis no mercado, que permite o entupimento total do vaso sangüíneo, observou, explicando que as microesferas existentes hoje têm um formato de flocos, que podem, eventualmente, permitir a passagem do sangue, interferindo na qualidade da embolização. Outro grande diferencial do produto nacional é a estrutura casca-núcleo que, além de permitir uma maior aderência das partículas no interior dos vasos sangüíneos, impede a sua aglomeração dentro do cateter, tubo plástico por meio do qual as microesferas são inseridas no organismo. A casca-núcleo também faz com que ele seja biocompatível. A parte externa é feita de poli (álcool vinílico) e o núcleo, de poli (acetato de vinila), detalhou, acrescentando que o produto foi desenvolvido a partir de uma demanda apresentada por uma empresa brasileira. Eles lançaram um desafio e nós topamos. Uma unidade de fabricação está sendo construída em Goiânia.

Eficiência

esponsável pelos testes em animais e em humanos, o cirurgião vascular Gaudêncio Espinosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que as partículas nacionais conseguiram bloquear a circulação dentro dos vasos sangüíneos em 100% dos casos. A eficiência foi total. O material importado, assim como o nosso, consegue impedir a chegada do sangue ao tumor. Porém, no caso da tecnologia nacional, que traz algumas características importantes, a embolização acaba sendo mais fácil, ressaltou.

Segundo ele, um grupo de 19 mulheres passou pelos testes com o produto. Destas, 15 apresentavam tumores benignos, sendo 12 delas, miomas. As outras tinham câncer no rim ou na região cervical. Em todos eles, a embolização foi integral. Porém, no caso dos tumores malignos, o tratamento não é curativo. Serve para facilitar a cirurgia para a remoção da área afetada, já que bloqueia a circulação do sangue na região, explicou Espinosa.

Médica das pacientes com mioma que experimentaram o novo produto, a ginecologista Juraci Ghiaroni, da UFRJ, relatou que as mulheres que tinham indicação de histerectomia (remoção do útero) não precisaram mais passar pelo procedimento após a embolização. É importante ressaltar que o mioma, na grande maioria dos casos, não requer nem tratamento, pois acaba diminuindo de tamanho após a menopausa. Mas há caso também no qual a cirurgia para retirada do útero pode ser necessária. Carlos Gil, coordenador da Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), destacou a importância do produto desenvolvido pela Coppe. A embolização não é inovadora, mas a composição dessas partículas, ao que parece, o é. Hoje em dia, a técnica tem várias aplicações. Pode ser usada, por exemplo, numa pessoa que tenha metástase no fígado e não pode fazer cirurgia. Não é curativo, mas você consegue dar uma sobrevida para o paciente, observou, festejando o invento. No Brasil, praticamente não geramos patente. Por isso, embora a técnica utilizada já seja conhecida, eles merecem aplausos. Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o neurocirurgião Clóvis Orlando da Fonseca também louvou o desenvolvimento das partículas. É importante o surgimento de terapias menos invasivas, disse ele que, em 2004, experimentou uma a administração nasal de um tipo de lipídio, o álcool perílico, para tratamento de câncer.

Veículo:O Liberal On-line – PA    Data: 08/07/2006  Editoria: Atualidades On-line