• Edição 121
  • 06 de julho de 2006

Resenha

Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia

capa do livro

Por: Francisco Conte

Martin-Barbero desenvolve, sem dúvida, uma das mais originais e fecundas reflexões sobre os processos de comunicação contemporâneos. Espanhol radicado desde 1963 na Colômbia, sua obra se caracteriza pela incorporação crítica de contribuições oriundas dos mais diversos campos do conhecimento, como o da sociologia, o da economia e o da história e por trazer o debate para a realidade latino-americana. Entre os estudiosos brasileiros suas teses vêm obtendo aceitação, contribuído significativamente para compreender as contradições de uma modernização compulsória, que atribui papel expressivo aos meios de comunicação de massa, ao mesmo tempo em que perpetua desigualdades sociais gritantes.

Livro seminal não apenas para o estudo das formas contemporânea da comunicação, Dos meios às mediações desloca a ênfase até então atribuída à crítica, em geral excessivamente unilaterais e redutoras, dos impactos dos produtos da indústria cultural e da transformação da cultura em mercadoria, cujo paradigma remonta à Escola de Frankfurt, e resgata o dado crucial da recepção. Ou seja, os sujeitos sociais são fundamentais para o entendimento da comunicação massiva e não depositários passivos de sentidos que lhes antecedem. A partir daí, enfatiza as inter-relações que tecem emissores e receptores e os fatores intervenientes nessa relação, bem como nas formas de apropriação e (re)significação de sentidos que freqüentam a pluralidade dos discursos contemporâneos. Em outras palavras, o conceito de mediações avançado por Martin-Barbero possibilita captar o processo de comunicação por inteiro, em sua complexidade internacional, e evita absolutizar a intencionalidade dos meios.

A partir desse mapa conceitual, Martin-Barbero discute a emergência dos conceitos de povo e massa na modernidade e as matrizes histórica da mediação de massa na América Latina, com destaque para as relações entre as massas e a mídia e os condicionamentos mútuos na produção e inversão de sentidos. A região, pela sua diversidade, se transforma em lugar privilegiado de pesquisa.

Uma importante conseqüência desse percurso é, na contramão das abordagens funcionalistas e estruturalistas, o resgate do popular como um espaço importante para se compreender os processos comunicacionais e culturais em curso na contemporaneidade. O massivo não anula o popular na produção da cultura. Ao contrário, elementos da dimensão popular conseguem se infiltrar no massivo, mantendo sua tradição e cultura, o que leva a constituição de uma heterogeneidade – uma mestiçagem cultural – com valores, crenças e formatos que, não raro, se opõem.

Uma contribuição por certo necessária ainda que, como aponta Néstor Garcia Canclini no prefácio, distante da complacência satisfeita que perpassa parte das análises da modernidade neoliberal.

Autor: Jesus Martin-Barbero

Ano: 2003

Editora UFRJ