• Edição 120
  • 29 de junho de 2006

Resenha

Autonomia e parceria: Estados e transformação industrial

capa do livro

Por: Francisco Conte

O papel do Estado na promoção do desenvolvimento está no foco dos debates econômicos atuais. Após décadas de hegemonia dos paradigmas neoliberais, que desqualificou, como anacrônica, qualquer atuação pública que visasse disciplinar as regras do livre mercado, o pêndulo parece, pelo menos no que concerne à reflexão acadêmica, iniciar lentamente um movimento em sentido inverso.

Um dos méritos da obra de Peter Evans – atualmente na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e autor do importante A tríplice aliança (Zahar, 1982), em que analisa as articulações entre Estado e capital (nacional e estrangeiro), que sustentaram a implantação da indústria petroquímica no País – é resgatar os estudos institucionais comparativos. Uma abordagem que procura explicações para as dinâmicas econômicas em determinações que vão além dos interesses utilitaristas imediatos dos indivíduos.

Evans evidencia que, apesar das suas diversas formas de organização e de relação com a sociedade, o Estado pode desempenhar um papel efetivo na alavancagem da industrialização. A partir da análise do modo como, ao longo das décadas de 1970 e de 1980, agências estatais, empresariado local e corporações transnacionais contribuíram para o surgimento de importantes indústrias de informática no Brasil, na Índia e Coréia, mostra que o Estado predador, pronto a sugar os recursos da sociedade, sem lhe devolver nada em troca, não é a única alternativa no tabuleiro das políticas públicas.

Surge, assim, um quadro mais matizado e rico. Na Coréia, por exemplo, a análise de Peter Evans evidencia o caráter fundamental que jogou o Estado para o desenvolvimento dos setores de tecnologia da informação, enquanto na Índia e no Brasil ele, algumas vezes, desempenhou nitidamente um papel positivo, outras, ao contrário, portou-se como um empecilho. Uma organização interna coerente de suas instâncias e fortes laços com a sociedade parecem ser precondições para que essas intervenções estatais tenham êxito.

Evans oferece, assim como assinala, com propriedade Paulo Bastos Tigre, do Instituto de Economia da UFRJ, no prefácio da obra, importantes sugestões para que o Brasil possa ingressar vantajosamente nos setores mais dinâmicos e tecnologicamente desafiadores da indústria globalizada.

Autor: Peter Evans

Ano: 2006

Editora UFRJ