• Edição 120
  • 29 de junho de 2006

Ponto de Vista

PDI é documento “mártir”

Priscilla Bastos

imagem ponto de vista

A Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentou, internamente, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o que vem gerando um produtivo debate junto a comunidade universitária. Para dar o seu ponto de vista, o professor e ex-diretor da Escola de Educação, Marcelo Correia e Castro, recém eleito decano do Centro de Filosofia e Ciências Sociais, manifestou-se sobre o PDI, fazendo uma análise geral do Plano.

“Primeiramente, temos de aplaudir, saudar e dar toda a força do mundo para o movimento de apresentar um projeto de desenvolvimento institucional. Para mim, um dos focos geradores de problemas das instituições públicas e das universidades é exatamente a falta de um projeto de desenvolvimento institucional, o que se explica, em parte, por uma política de desenvolvimento que faz com que se trabalhe sempre com muita carência de recursos; é um convite ao improviso. Quanto mais caótica é a política, mais se precisa de um projeto para não se perder no caos. Um exemplo microcósmico da Faculdade de Educação: ao assumimos a direção da faculdade, tivemos a clareza de construir, nos quatro meses anteriores, um projeto que permitiu que não nos perdêssemos, o que fez com que, ao chegarem recursos, soubéssemos o que queríamos fazer com ele, mesmo para remanejá-los. Então, a primeira coisa que eu tenho a dizer do PDI é que bato palmas e sou franco defensor do movimento de apresentar o projeto, o que não é uma coisa menor; ter um projeto é uma necessidade primária de uma instituição que queira crescer.

Isso me leva ao segundo ponto que quero destacar: a maneira como se está construindo esse projeto também tem que ser objeto de um reconhecimento geral, porque expor publicamente um projeto dessa complexidade e importância significa coragem. O PDI é aquele documento que se pode brincar chamando-se de documento mártir. A reitoria e a equipe que elaborou esse projeto cumpriram com o dever. Primeiro, porque ofereceram o projeto em vez de impô-lo e, ao mesmo tempo, ofereceram-no ao exame da coletividade, o que é difícil de se fazer. É muito mais fácil negociar a aprovação do projeto ou deixar que ele se construa sozinho. Isso também deve ser saudado como um novo movimento dentro da UFRJ, pois o dirigente não está fugindo da sua responsabilidade e abrindo espaço às opiniões. Para a universidade ser forte ou tão forte quanto ela deveria ser, deve-se prevalecer o coletivo, e isso já é um primeiro passo.

Finalizando, O PDI traz uma orientação estrutural que condena ou tenta superar a organização departamental. Acho que isso é um equívoco. Embora eu considere louvável pensarmos outras formas de organização que não essa, creio que o que se deva fazer não é eliminar a estrutura departamental; é fazer com que ela funcione como deveria. Quando alguma coisa dentro da estrutura não dá certo, cria-se uma espécie de para-estrutura – um núcleo, um laboratório, um fórum, um nome qualquer – então fica-se com uma duplicidade, que é sempre ruim sob o ponto de vista administrativo, acadêmico e político, pois fica-se com uma duplicidade de um mesmo espaço para o mesmo fim.

O PDI é um movimento que tinha que ser feito, mesmo tarde, mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Como está sendo feito, vai ser positivo, pois a coletividade está sendo convidada a participar, sendo responsável pelo conjunto final.”