• Edição 114
  • 18 de maio de 2006

Zoom

TV digital

Leonardo Velasco

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Quando se vê uma discussão na mídia sobre a implantação da televisão digital, a única coisa que aparece é uma briga para a decisão de qual padrão deve ser adotado no Brasil (japonês, europeu ou norte-americano). Mas com isso, outros fatos importantes desta nova tecnologia são deixados de lado. E esses foram os pontos discutidos em um debate no Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na última segunda-feira.

No debate, foi unânime a opinião de que, no momento, decidir o padrão é o menos importante para o Brasil. Antes, é preciso definir outros pontos relacionados à TV digital. As maiores preocupações dos presentes eram as potencialidades desta tecnologia, que podem ser perdidas dependendo das decisões do governo.

Segundo Gustavo Gindre, membro do Coletivo Intervozes, “ o risco é introduzir um elemento com enormes potencialidades, mas com os mesmos benefícios de antes. É uma tecnologia que pode mudar a TV, mas do jeito que as emissoras querem só irá reforçar o cenário atual”, alertou.

As potencialidades a que Gindre se refere são a possibilidade de um maior número de canais e de interatividade. O problema é que para o primeiro funcionar, as emissoras teriam que abrir mão de um detalhe técnico: com a nova tecnologia, o espaço de um canal comportaria seis. Entretanto, as organizações televisivas desejam manter controle sobre todo este espectro, o que tende a limitar a variação do conteúdo.

Quanto à interatividade, o problema é que para a TV ser realmente interativa, precisaria ser feito um grande processo de inclusão digital. Trata-se de uma opção de política social, uma vez que, de acordo com Gustavo Gindre, o governo dispõe de R$ 4,5 bilhões para investir em comunicação e com apenas 10 % deste valor, seria possível promover soluções técnicas que assegurassem tal inclusão.

Atualmente, as leis que regem rádio e televisões são datadas de 1962, ponto que também preocupava os componentes da mesa. “Não se pode escolher bem a TV digital sem antes pensar no marco regulatório da mídia. Até porque esta tecnologia pressupõe convergência de mídia”, afirmou André Parente, professor da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ).

Por causa desses detalhes, a rapidez na decisão sobre qual padrão adotar é vista com preocupação. “Essa é uma discussão sobre a concentração de poder das organizações. Esse é um assunto que nunca foi discutido antes e ano de eleição não é a melhor hora para se decidir sobre isso. Queremos adiar para o ano que vem a definição do padrão e queremos impedir que se discuta separadamente o modelo industrial-tecnológico e o de exploração”, disse a deputada federal Jandira Feghali.