• Edição 114
  • 18 de maio de 2006

Ponto de Vista

Prazos comprometem pós

Aline Durães

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As agências de fomento à pesquisa são fundamentais para a pós-graduação do país. Elas, além de colaborar com o financiamento e com a divulgação científica, também investem na qualificação de estudantes, através da concessão de bolsas de estudos.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, por exemplo, é uma das mais importantes instituições desse tipo no país. Criada há 45 anos, a Capes conquistou, ao longo do tempo, o reconhecimento do público e atua, cada vez mais, no aprimoramento da formação acadêmica.

Alguns pesquisadores, no entanto, resistem em aceitar algumas imposições e decisões desse órgão. O professor Roberto Faria, do Instituto de Química da UFRJ, é um deles. De acordo com o docente, a Capes prejudica o progresso da Ciência, inibindo inovações nas linhas de pesquisa.

"Eu acho muito séria a questão da interferência dos órgãos externos no funcionamento da universidade. A Capes, por exemplo, tem, hoje em dia, alguns mecanismos que eu considero extremamente danosos. O maior deles é limitar o prazo de defesa das teses. Até acho que deve existir um limite de tempo para a concessão das bolsas, mas não pode querer determinar a duração de uma pesquisa.

Na minha visão, esse procedimento se assemelha aos mecanismos da educação pública de Ensino Fundamental. Ali, o Estado impõe que o aluno avance de ano, mesmo que ele não saiba nada e ainda não esteja preparado para a série posterior.

Não se pode obrigar a um aluno escrever uma dissertação em dois anos. Isso prejudica o avanço da Ciência. Em muitos casos, o pós-graduando acaba recorrendo a formas ilícitas para cumprir o prazo. Ele inventa, pede ao orientador para escrever sua tese ou então propõe assuntos mais limitados. Ou seja, a preocupação com o progresso da Ciência acaba sendo menor do que com o prazo de entrega.

As estatísticas e os dados dos programas de pós-graduação serão computados, mas o avanço do conhecimento da Ciência fica prejudicado.

As agências de fomento também recomendam que os programas de uma unidade se aglutinem. Isso, na minha opinião, é outra decisão danosa. As atividades de pesquisas até têm alguma semelhança entre si, mas a fusão, pura e simples, tira a independência das pessoas.

Na medida em que um departamento menor se junta a um outro mais produtivo, os professores desse departamento menor vão ter grandes dificuldades em captar alunos, porque eles vão ter laboratórios e grupos de pesquisa com recursos reduzidos. Eles terão menor projeção nacional, o que afastará os alunos. Isso é juntar lobos e cordeiros".