• Edição 112
  • 04 de maio de 2006

Ponto de Vista

A Força Econômica dos BRICs

Aline Durães

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Analistas econômicos de todo o mundo têm devotado, nos últimos anos, maior atenção aos quatro principais países emergentes: Brasil, China, Índia e Rússia, grupo conhecido como BRICs. Isso porque é grande a possibilidade de essas nações se tornarem a maior força econômica global dentro de algumas décadas.

A perspectiva é de que, até 2050, a soma do PIB (Produto Interno Bruto) dos BRICs seja superior à receita do G6 (Estados Unidos, Grã- Bretanha, França, Alemanha, Japão e Itália), aliança que, atualmente, reúne as mais poderosas economias do globo. Essa projeção imprimiria significativas mudanças na dinâmica do comércio internacional.

Apesar de não formarem um mercado comum, visto que se localizam geograficamente distantes e não garantem igualdade de direitos sobre importação e exportação uns aos outros, os BRICs já fazem alianças bilaterais e procuram alinhar suas decisões em busca de uma maior expressão nas relações comerciais internacionais.

Que fatores fazem de países tão diferentes como os BRICs futuras potências econômicas? O crescimento do PIB pode trazer melhorias à população dessas nações? Para responder a essas questões e discutir as potencialidades desse grupo, o Olhar Virtual entrevistou o professor Hugo Boff, do Curso de Atualização em Teoria Econômica (CATE), do Instituto de Economia (IE), da UFRJ.

“Um país emergente é aquele que conseguiu vencer as primeiras etapas da estruturação econômica. Ou seja, para ser considerado emergente uma nação precisa ter solidificado suas atividades primárias e ter iniciado o processo de industrialização, produzindo boa parte dos insumos industriais que utiliza, inclusive máquinas necessárias à transformação de matérias-primas. Esse país deve ter ainda um mercado interno iminente e um certo grau de competitividade a nível internacional.

O Brasil, a Rússia, a Índia e a China formam um grupo especial entre os países emergentes por causa do tamanho de suas economias e pelo papel crescente que estão desempenhando na escala do comércio internacional. Esse grupo chama atenção pelo potencial tanto econômico como político que pode vir a ter nos próximos quinze ou vinte anos.

Os BRICs têm traços semelhantes. Eles são donos de um vasto território, com abundância de recursos naturais; têm uma população enorme, o que significa muita mão-de-obra; suas indústrias são razoavelmente desenvolvidas e, apesar de não ter um mercado interno forte, possuem um grande potencial de desenvolvimento desse mercado.

Dada a dimensão das populações é completamente viável que o PIB desses países supere o do G6. E isso pode acontecer em um período menor do que a projeção de 50 anos. O PIB é um indicador do valor agregado da produção total realizada durante o ano em uma dada economia. Como os BRICs são economias grandes com amplas populações, a tendência é haver produções volumosas.

Mas o PIB não é suficiente para definir se uma nação será ou não mais desenvolvida. Existe outro indicador usado para avaliar o grau de desenvolvimento de um país, chamado de PIB per capita (por pessoa). O PIB da China, por exemplo, é da ordem de $1,677 trilhão, mas o PIB per capita desse país corresponde a $1290,00 por ano. Vê-se que os salários não refletem necessariamente a produtividade dos fatores. A tendência, no entanto, é que, acompanhando o PIB, o PIB per capita cresça e o nível de vida da população dos BRICs melhore. Isso porque, com o crescimento da renda, é provável que existam mais recursos para atividades corretivas, como programas sociais, por exemplo.

É importante dizer que o fato de o PIB dos BRICs superar o do G6 não significa, de modo algum, que esses países gozarão de uma posição predominante no cenário político-internacional. Um PIB maior fará deles grandes mercados, que estarão mais bem inseridos no comércio internacional. Os BRICs não serão hegemônicos, já que os grandes avanços científicos, as tecnologias militar e nuclear continuam no controle de outros países. Eu não acredito que haverá uma grande mudança no quadro político atual. As mudanças ocorrerão nos âmbitos da produção e do volume de comércio desses países. Os impactos ambientais serão bem maiores do que os reflexos políticos. A necessidade de recursos naturais e de novas fontes de energia que possam atender a demanda dessas nações são algumas das questões que devemos começar a considerar.

Vale dizer, como último ponto, que não é porque esses países estão em um mesmo grupo que eles serão tratados da mesma forma no mercado internacional. Estados Unidos e União Européia sabem muito bem dos limites de cada um dos BRICs. As relações internacionais não são tratadas em nível de grupo, porque suas economias não são iguais”.